Fast-foods deveriam suspender a venda de lanches com brinquedos?

hamburger-toy1Saiu hoje no Estadão uma enquete com este título: “Redes de fast food devem suspender a venda de lanches com brinquedos?”, e duas opções de resposta: sim ou não.

Até o momento da publicação deste post o resultado estava em 60% sim e 40% não.

Parece que uma resposta direta para o sim seria a coisa mais certa e ética, certo? Ok, para muitos sim. Mas para mim parece meio óbvio que a resposta é NÃO.

Deixar de oferecer brindes é uma atitude contra o marketing (no caso o promocional), ou seja, é atacar o conceito central do mercado, o mesmo que nos dá conforto de escolhas, nos dá qualidade por concorrência, diversidade de ofertas, o teu carro na garagem, a tua bolsa de marca ou o teu último modelo de celular (e que também tem seus mega-desequilíbrios sociais, sei disso, mas por favor, marxismo na prática não rola, certo?). Concordo que proibições para ações de marketing são válidas para produtos que fazem mal por si só, como é o caso do cigarro, do álcool, e de qualquer produto intrinsecamente danoso. E mesmo eu sendo a favor da reeducação pela saúde alimentar, e principalmente para as crianças (que isto fique claro aqui), não vejo razão para uma proibição deste tipo.

O problema não está aí, e mais uma vez ninguém vai a fundo no problema enquanto todos resolvem atacar o lado mais fácil e superficial, porém ineficiente.

O problema da saúde alimentar, principalmente no caso dos fast-foods, é que não há nenhum órgão, lei ou entidade que regularize o aspecto nutricional dos alimentos. Não tem nada que obrigue os alimentos industrializados a serem saudáveis e nutritivos!! Explico: se você passar dias só tomando leite, isto vai te fazer mal, se passar dias só bebendo água, isto vai te fazer mal, se passar dias só comendo alface, isto vai te fazer muito mal, e se passar dias só comendo fast-food, isto vai te fazer mal também. Tem que equilibrar.

Mas não é só isto…

No Brasil quem regula a qualidade dos alimentos é a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que tem várias formas de fazer isto, uma delas é aquele selo de qualidade S.I.F. (Serviço de Inspeção Federal) que a gente vê nos produtos de origem animal. Fantástico. Teoricamente eles checam todos os alimentos de origem animal que consumimos para ver se não estão contaminados, se têm as bactérias x, y ou z, se estão estragados, se provêm de lotes com problema, etc, etc, para ver se determinado alimento pode causar alguma doença ou problemas ao comê-lo. Isto está muito bom e garante que se você comer, por exemplo, um hambúrguer, você não vai passar mal por isto. Pode comer à vontade. Mas se você decidir comer um pouco da grama do teu jardim e ela estiver limpinha, tudo bem, tão pouco vai te fazer mal algum.

Mas da mesma forma no Brasil não tem ninguém que obrigue que os hambúrgueres sejam nutritivos e balanceados, MESMO SABENDO QUE AS CRIANÇAS ADORAM COMER HAMBÚRGUERES!! Não tem ninguém que fiscalize o valor nutritivo dos alimentos, não há regras para isto. Obrigam a escrever nas embalagens todas as informações, mas não obrigam que estas tabelas de nutrientes dos produtos industrializados e de consumo em massa, como é o caso dos fast-foods, sejam equilibradas segundo as nossas necessidades. Basta que estes alimentos sejam comestíveis e que não estejam contaminados, e tá liberado, pode vender à vontade.

Devem é obrigar as redes de fast-food e a indústria a venderem alimentos balanceados e realmente nutritivos. Mas como a indústria vai fazer isto? Problema deles, têm jeito sim e eles teriam que ser obrigados a fazê-lo. Custa mais caro para eles, vai reduzir o lucro e dar mais trabalho. Ótimo, esta á a base do marketing e do mercado que eles precisam para viver, concorrência e inteligência.

Mas aí, ao invés disto, se realmente for proibida a promoção com brindes para crianças nas redes de fast-foods, tudo bem, eles vão inventar outra forma de promoção, as agências são incrivelmente inteligentes e competentes para isto, e as redes vão continuar vendendo porcaria aos montes para as crianças e adultos do país (como estas coisas estranhas que colocam no meio dos hambúrgueres), e que por sua vez vão continuar engordando e morrendo de complicações derivadas disto. E mais dinheiro será gasto na saúde pública.

Pois é, concorrência e inteligência é o que também está faltando nos (des) governos deste país. E tá muito difícil deles fazerem algo realmente bom e eficiente pro nosso povo brasileiro, não tá não?